O mercado de realidade virtual em Portugal tem vindo a crescer de forma consistente nos últimos anos, com cada vez mais empresas e consumidores a descobrirem o potencial transformador desta tecnologia. À medida que entramos em 2023, várias tendências importantes estão a emergir que moldarão a indústria de VR no país.
Neste artigo, analisamos as principais tendências que estão a definir o futuro da realidade virtual em Portugal, desde os avanços tecnológicos mais recentes até às aplicações inovadoras em diversos setores económicos.
1. Equipamentos VR mais Acessíveis e Autónomos
Uma das tendências mais significativas para 2023 é a crescente disponibilidade de equipamentos VR autónomos (standalone) a preços mais acessíveis no mercado português. Estes dispositivos não necessitam de ligação a um computador ou consola, tornando a experiência VR mais prática e acessível para o utilizador comum.
Com preços a começar nos 350€, estes equipamentos estão a democratizar o acesso à realidade virtual em Portugal, permitindo que mais pessoas experimentem esta tecnologia sem necessidade de investimentos elevados em hardware adicional.
A disponibilidade destes equipamentos mais acessíveis está a criar um efeito de bola de neve no mercado português. Segundo dados da IDC Portugal, as vendas de dispositivos VR cresceram 43% em 2022, e a previsão para 2023 é de um crescimento ainda mais acentuado, ultrapassando os 60%.
Este crescimento está a ser impulsionado não apenas pela redução de preços, mas também pela melhoria significativa na qualidade e conforto dos equipamentos. Dispositivos mais leves, com maior resolução de ecrã e melhores baterias estão a tornar as experiências VR mais confortáveis e imersivas.
2. Aumento da Adoção Empresarial
2023 está a marcar a transição da VR de uma tecnologia principalmente associada ao entretenimento para uma ferramenta empresarial essencial em Portugal. As empresas portuguesas estão a adotar a realidade virtual em áreas como formação, design, marketing e colaboração remota.
Setores como saúde, imobiliário, educação e manufatura lideram esta adoção, com implementações que estão a transformar processos e a criar novas oportunidades de negócio.
A utilização de VR na formação profissional é particularmente notável. Hospitais como o São João no Porto e a Santa Maria em Lisboa estão a implementar programas de formação médica em VR que permitem aos profissionais praticar procedimentos complexos em ambientes virtuais seguros.
No setor imobiliário, agências como a ERA e a ReMax estão a utilizar tours virtuais para mostrar propriedades remotamente, uma tendência que ganhou força durante a pandemia e continua a crescer devido à sua eficiência e conveniência.
"A realidade virtual deixou de ser uma curiosidade tecnológica para se tornar uma ferramenta estratégica. Em 2023, vemos empresas portuguesas de todos os tamanhos a integrarem VR nos seus processos core, com resultados tangíveis em eficiência e inovação." - António Câmara, Professor do Departamento de Informática da Universidade Nova de Lisboa e especialista em realidade virtual
3. Expansão do Metaverso Português
O conceito de metaverso está a ganhar força em Portugal, com empresas e instituições a começarem a criar espaços virtuais interligados onde os utilizadores podem interagir, trabalhar, aprender e socializar.
Esta tendência inclui o desenvolvimento de ambientes virtuais com identidade portuguesa, incorporando elementos culturais, arquitetónicos e históricos do país.
Iniciativas pioneiras nesta área incluem o "Portugal Virtual", um projeto que recria locais históricos e turísticos portugueses em ambiente digital imersivo, e o "Lisboa MetaCity", um espaço virtual que recria partes da capital portuguesa e permite interações sociais e comerciais.
Universidades portuguesas como a Universidade do Porto e o Instituto Superior Técnico estão também a desenvolver campus virtuais onde os alunos podem assistir a aulas, participar em laboratórios virtuais e colaborar em projetos, independentemente da sua localização física.
Estas iniciativas estão a aproveitar a rica herança cultural portuguesa e a tecnologia VR para criar experiências digitais únicas que fortalecem a identidade nacional no espaço digital global.
4. Integração de Haptics e Interfaces Multissensoriais
Uma tendência emergente no mercado português é a integração de tecnologias hápticas e interfaces multissensoriais que permitem aos utilizadores não apenas ver e ouvir ambientes virtuais, mas também sentir e interagir com eles de forma mais natural.
Desde luvas hápticas a sistemas de feedback tátil, estas tecnologias estão a enriquecer as experiências VR em Portugal, tornando-as muito mais imersivas e realistas.
Empresas portuguesas como a TechTouch, uma startup de Lisboa focada em interfaces hápticas, estão a desenvolver soluções inovadoras nesta área. O seu mais recente produto, as HapticGloves PT, permite aos utilizadores sentir a textura e resistência de objetos virtuais, abrindo novas possibilidades para aplicações em áreas como medicina, design industrial e entretenimento.
Além do feedback tátil, sistemas que incorporam estímulos olfativos e até mesmo simulações de temperatura estão a começar a ser testados em experiências VR premium em Portugal, particularmente em instalações de entretenimento e marketing experiencial.
5. VR Social e Eventos Virtuais
Os eventos e experiências sociais em VR estão a ganhar popularidade em Portugal, com concertos virtuais, exposições de arte, conferências e até festivais a serem realizados em plataformas de realidade virtual.
Esta tendência está a criar novas formas de entretenimento e networking que transcendem as limitações geográficas e as restrições de capacidade física.
Um exemplo notável foi o "Festival Rock in VR", uma versão virtual do popular festival de música que permitiu a participantes de todo o país assistir a concertos em ambiente imersivo, interagir com outros fãs através de avatares e até "conhecer" os artistas em meet-and-greets virtuais.
No âmbito profissional, a Web Summit Lisboa incorporou componentes VR na sua edição de 2022, uma tendência que deverá expandir-se em 2023, permitindo que participantes remotos tenham uma experiência mais imersiva do evento do que seria possível através de simples transmissões de vídeo.
6. Desenvolvimento de Conteúdo VR Nacional
O ecossistema português de desenvolvimento de conteúdos VR está a florescer, com estúdios locais a criar experiências, jogos e aplicações com identidade portuguesa.
Desde recriações históricas até aplicações educativas sobre a cultura e património português, estas produções estão a enriquecer o panorama de conteúdos VR disponíveis no país.
Destaca-se o "Portugal 360", uma série de experiências VR que permite aos utilizadores explorar o património cultural e natural português, desde os monumentos de Belém até às paisagens do Gerês, passando pelos vinhedos do Douro e pela costa algarvia.
No campo dos jogos, estúdios portugueses como a Battlesheep e a Pixel Loot Studios estão a desenvolver títulos VR inovadores que começam a ganhar reconhecimento internacional. O jogo "Fado", que combina elementos da cultura portuguesa com narrativas interativas em ambiente VR, foi recentemente premiado na categoria de inovação na Gamescom.
"Estamos a assistir ao nascimento de uma verdadeira indústria criativa VR em Portugal. Os nossos criadores estão a combinar a rica herança cultural portuguesa com as possibilidades ilimitadas da realidade virtual, criando experiências que são simultaneamente inovadoras e autenticamente portuguesas." - Joana Marques, Diretora da Associação Portuguesa de Empresas de Tecnologias Criativas
7. VR na Educação e Formação Profissional
A utilização de VR em contextos educativos está a crescer exponencialmente em Portugal, com escolas, universidades e centros de formação a adotarem esta tecnologia para criar experiências de aprendizagem mais envolventes e eficazes.
Desde visitas virtuais a locais históricos até laboratórios virtuais de ciências, estas aplicações estão a transformar a forma como os estudantes portugueses aprendem.
O Ministério da Educação português lançou recentemente o programa "Escola Virtual Imersiva", que disponibiliza equipamentos e conteúdos VR educativos a escolas públicas de todo o país, com especial foco nas disciplinas de ciências, história e geografia.
No ensino superior, universidades como a Universidade do Minho e a Universidade de Aveiro estão a desenvolver laboratórios virtuais que permitem aos estudantes realizar experiências científicas complexas em ambiente seguro e controlado, sem necessidade de equipamentos físicos dispendiosos.
Esta democratização da tecnologia VR no ensino está a criar novas oportunidades de aprendizagem experiencial, especialmente importantes para estudantes em áreas remotas que tradicionalmente teriam acesso limitado a determinados recursos educativos.
O Futuro da VR em Portugal
Olhando para além de 2023, várias tendências emergentes apontam o caminho para o futuro da realidade virtual em Portugal:
- Integração com IA: A combinação de realidade virtual com inteligência artificial está a abrir novas possibilidades, desde personagens virtuais mais realistas até experiências que se adaptam dinamicamente ao comportamento do utilizador.
- VR Terapêutica: A utilização de VR para fins terapêuticos está a ganhar tração em Portugal, com aplicações no tratamento de fobias, stress pós-traumático e reabilitação física.
- Interfaces Cérebro-Computador: Embora ainda em fase experimental, as interfaces que permitem controlar experiências VR diretamente com o pensamento estão a ser desenvolvidas, com centros de investigação portugueses como o Champalimaud a participar nesta pesquisa de ponta.
- VR Sustentável: A utilização de VR para reduzir a necessidade de viagens físicas e consumo de recursos está a alinhar-se com os objetivos de sustentabilidade de Portugal, criando uma ponte interessante entre alta tecnologia e consciência ambiental.
Desafios e Oportunidades
Apesar do crescimento promissor, o mercado português de VR enfrenta alguns desafios distintivos:
- Literacia Digital: Existe uma necessidade de aumentar a literacia digital da população portuguesa, especialmente em grupos demográficos mais velhos, para maximizar a adoção de VR.
- Infraestrutura Digital: Embora Portugal tenha uma boa cobertura de internet, as experiências VR mais avançadas, especialmente aquelas baseadas na nuvem, requerem conexões de alta velocidade que ainda não estão universalmente disponíveis em áreas rurais.
- Financiamento e Investimento: Startups portuguesas de VR muitas vezes enfrentam desafios para obter financiamento comparáveis às suas congéneres europeias, embora programas como o Portugal 2030 estejam a começar a direcionar mais recursos para tecnologias emergentes.
No entanto, estes desafios são acompanhados por oportunidades significativas:
- Ponte Cultural: Portugal está bem posicionado para criar conteúdos VR que sirvam de ponte cultural entre a Europa e mercados de língua portuguesa como o Brasil e países africanos.
- Turismo Virtual: Com o seu rico património histórico e cultural, Portugal tem um potencial imenso para desenvolver experiências de turismo virtual que podem servir tanto como substitutas de visitas físicas como incentivos para viagens reais.
- Recriação Histórica: A longa e rica história de Portugal oferece material abundante para recriações históricas imersivas que podem ter impacto educacional e cultural significativo.
Conclusão
2023 marca um ponto de viragem para a realidade virtual em Portugal. A convergência de hardware mais acessível, maior adoção empresarial, desenvolvimento de conteúdo local e aplicações educativas está a criar um ecossistema VR vibrante e em rápida expansão.
À medida que estas tendências se desenvolvem, a VR está a transcender o seu papel inicial como uma curiosidade tecnológica para se tornar uma plataforma transformadora com impacto em praticamente todos os setores da sociedade portuguesa.
Para empresas, educadores, criadores de conteúdo e consumidores portugueses, este é o momento ideal para explorar as possibilidades da realidade virtual e participar na construção deste futuro digital imersivo que está a tomar forma em Portugal.